O dia de amanhã cuidará do dia de amanhã

Pra escutar enquanto lê :)

Ela tem tentado reconstruir tudo o que foi despedaçado nesses últimos anos. A vida não é fácil pra ninguém, porque pra ela seria? Mas nem por isso ela se permitia desanimar. Ela seguia em frente e enfeitava os dias da forma mais bonita e honesta que podia. Uma hora, tudo se ajeita – suspirou. No fundo ela sabia que o caminho certo estava dentro de si; nunca esteve fora. O céu estava limpo e o sol mais radiante que nos dias anteriores. Olhou pela janela e sentiu uma brisa agradável no rosto. Tentou aquecer a alma. Não deu. Lavou o rosto e se olhou no espelho. Ela não sabia ao certo o que estava acontecendo com ela e o que faltava. E apesar de não saber, não havia tristeza em seus olhos. Era na bagunça que ela se arrumava. Abriu um livrinho da sorte e na última página dizia: 'O dia de amanhã cuidará do dia de amanhã'. Não adiantava mesmo interferir no destino. Era perda de tempo. Ele é tão mais forte... Ainda ontem ela admitiu pra si mesma e se deu por vencida. Vezenquando o passado e suas múltiplas possibilidades desperdiçadas a atormenta, mas, dentro dela ainda bate a certeza – meio incerta – de que um dia tudo passa. Ela rezava por ombros mais fortes, e que nunca, mesmo quando estivesse doendo, ela perdesse de vista a ideia de alegria. Mesmo que haja despedidas é preciso lembrar a cada anoitecer, o quanto é bom viver e o quanto somos privilegiados por isso. Decidiu que era mais sadio se distanciar de todas as coisas que a levavam pra trás. De longe, nada afeta. Ou quase nada. Afinal, nada é eterno. O café esfria, o cigarro apaga, as pessoas mudam e as promessas se perdem. Sem pensar em mais nada, estirou-se na cama e fechou os olhos pra esquecer. 'Descansa, pequena! O sono também salva. Ou adia! Tenta...'. Ela só precisava que a vida a ensinasse a amar cada vez mais leve, apesar de. Porque eu não consigo dar menos já que toda essa imensidão afugenta e assusta? - lastimou. Ela não gostava dos disfarces que aprendera a usar. Gostava das coisas simples e claras. Sentou-se na cama e ia repetindo como um mantra: - Isso tudo vai passar! É só uma questão de tempo... Aos poucos foi ficando serena e pensou que Deus lá de cima, vê todos os dias à sua batalha em busca de paz. E o quanto ela se esforça pra ser melhor a cada dia. Para si, para os outros. Para o mundo. Ela definitivamente não nasceu para ser mais uma em meio à multidão. Ela queria ser lembrada e fazia por onde. Ainda que não reconhecessem ou valorizassem isso. Levantou-se, ajeitou os cabelos desbotados e castigados pelo sol com o cuidado de quem ajeita a própria alma também castigada pelos infortúnios e dissabores da vida; e, saiu de casa pra ver o mar. O barulho das ondas lhe dava a mesma paz, que um dia ela encontrou nos braços daquele intempestivo amor. Ela decidiu que precisava levantar o corpo para que o espírito entendesse o recado e pudesse se erguer também. De frente ao mar, sentiu que tudo poderia voltar ao seu lugar, mesmo que fosse aos pouquinhos. A menina e o mar... Milagres que só as conchinhas e Deus, podem contar.

Odoyá!

Postagens mais visitadas