Ao passado

São Paulo, 18 de abril de 2014; 1h29 AM.

Provavelmente você esteja ocupado e nem leia agora. Tampouco sinta o que eu estou sentindo nesse momento. Eu cochilei e tive um sonho. Sabe aqueles cochilos rapidinhos que não servem para tirar o cansaço e sim para nos dar mini sonhos pra lá de inconvenientes?! Pois é. Tive um. Sonhei que estávamos lá no aeroporto... E que anunciavam o meu vôo e nos despedíamos. Eu só sei que não vou conseguir expressar em palavras, a imensidão do que estou sentindo agora. Parece que a dor que sentimos (você estava bem triste ali), ultrapassou o sonho e veio parar no meu peito e... Passou um filme na minha frente. De como o conheci. E de como começamos errado uma historia que podia ter sido imensamente linda. Porque éramos... Lindos. Lembrei das longas conversas pelo MSN*, de todo aniversário que você me ligava religiosamente pra dizer que me amava e o quanto sonhava em um dia me ter perto. Lembrei do CPM 22 e do quanto eu era metida a roqueira e você a moleque zica. Lembrei da nossa primeira vez. Você ficou com vergonha e eu me senti a menina mais feliz de todo o mundo. Éramos proibidos, éramos errados, mas não precisava ter sido. Sabe? Eu aprendi que também se tem saudades do que não se viveu. E dói bastante. Acho que nunca vou conseguir superar essa saudade de tudo o que eu quis com você e não tive. Lembrei de quando nós conversamos por horas pelo telefone, enquanto eu ainda morava em Salvador e fazíamos planos de quando eu chegasse aqui em São Paulo. Acho que seu irmão depois me ligou pra perguntar de qual cidade se tratava o DDD 71, porque tinha chegado uma conta absurda. Te contei? Você soube? Lembro de quando cheguei aqui em São Paulo e você foi me encontrar no Brás. Lembro do sorriso lindo que você me deu. E do abraço... Ah... Como eu adoro os seus enormes braços dando voltas em mim. Eu me sentia tão protegida. E é uma pena... Que ao longo do tempo, eu tenha que ter aprendido a dançar ballet para consegui-los. Eu sempre fui metade Bethânia metade latina e você sempre detestou isso. Embora eu ache que bem no fundo, tenham sido as minhas idiossincrasias que te hipnotizaram por tanto tempo. Minha complexa sanidade envolta por uma espessa camada de imaturidade e volúpia. E eu ainda lembro do quanto você me queria só pra você. Lembro do nosso desejo. Nós nos completavamos ainda que inversamente proporcionais. Na cama, na briga, no ciúme, na saudade, na vida. Pra que viver na beira do lago se podia se embriagar no mar? E são por todas essas pequenas grandes coisas, que hoje, um sonho tão curto mexeu tanto comigo. Porque eu lembrei de tudo que abdiquei pra viver essa história. Uma menina de 19, que cursava uma das melhores universidades de direito, aprovada em Letras Vernáculas na federal e morava na casa mais bonita das Pitangueiras. E acabei por ser uma mulher de quase 25 com espirito de 70. A mulher que desistiu da faculdade e se tornou uma bloguista lida por pouco mais de 50 mil pessoas por todo o mundo, traduzida em mais de cinco idiomas (E pensar que ele foi criado pra você. Por você.). Não se tratava do dinheiro, do luxo ou das grifes. Não é sobre o intercâmbio para a Inglaterra que eu deveria estar fazendo, do carro ou dos diplomas que deveria ter conquistado. Mas do meu pai, meus amigos de infância, minhas sobrinhas, irmã, família. Se trata de quem eu era e de quem queria ser e acabei por ser. Eu tenho certeza que quando eu pisar no aeroporto internacional de GRU, eu vou chorar bastante. Muito mais do que eu estou chorando agora. Porque desta vez, diferente de todas as outras, eu estarei indo embora. Para onde eu nasci, cresci e deixei... Pra viver esse amor com você. Eu vi tanta gente chorar por mim, vi minha terra sangrar. Sentiram a dor de assistir a sua pupila partir pra bem longe e sem nada a temer. Vim criança, confesso. Vou embora mulher. Você sabe que nessa terra, filho chora e mãe não vê. Não viram. Mas eu aprendi. Aprendi a ser valente, a bater de frente. Aprendi a reconhecer a maldade nos olhos que me vêem, a ter voz e fibra. Lutei pelo que quis. Apanhei mas também bati. O mais forte que consegui. Mas conservei a essência de um animal sentimental. Eu agradeço a Deus por ter vivido pra saber. Que a vida não alisa ninguém. E quem sabe um dia, Deus não me coroa, Rainha de Mim? A pobre lagarta penou pra virar borboleta e quando conseguiu, perdeu as asas. Às vezes, o nosso destino está no princípio. A Bahia não representa somente os Km intransponíveis que nos separarão daqui há oito dias, mas a lição e as feridas de quem deixou a sua vida inteira por amor e se fodeu. Hoje ou daqui a 50 anos, eu vou me lembrar de você. O homem a quem eu entreguei toda a minha juventude. O homem dos ombros largos, cujo abraço fiz morada por 10 anos. O menino dos olhos oblíquos de cigano que o diabo lhe deu. O grande amor da minha vida. Dono de tudo que eu tive de bonito. De todos os meus sentidos e desejos mais sacanas. "Diga-me, pobre Moça! Quem mais perdoou na vida? E eu lhe direi quem mais amou!" Você que mais me traiu, mentiu, abandonou, iludiu, humilhou, desprezou, cuspiu, pegou de volta, cansou, desejou, comeu, engasgou. Me amou?! Eu nunca vou saber...

PS.: Quem sabe aonde os ventos podem nos levar? Hoje com ela, amanhã à beira mar, vendo a negrada jogar capoeira e o sol a nos abençoar. Não esquece que a minha alma, guarda um lar só pra nós dois. E quem sabe um dia, por poesia ou descuido, você decida ficar?! Comigo bem juntinho, sem caber de imaginar. Por amor a gente fica. Por amor a gente espera. Meu coração já calçou as estradas pra você caminhar. E no mais... Eu tô varrendo o nosso canto, meu preto! O amor não tem pressa. Ele pode passar a eternidade esperando em silêncio, pode acreditar.

Esse texto não tem fim, esse vazio de você não tem fim. E no mais.. Te desejo longas noites de insônia, cheias de lembranças minhas. Hoje, amanhã, sempre.

Stephanie. 

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