Resposta à dor de uma amiga. Ou, Please, just let it go!
Música pra você, aqui. :)
Essa tarde eu recebi a ligação de uma jovem amiga que
lamentava desesperadamente o silêncio diante da declaração de amor que fez ao
rapaz com quem namorou por alguns anos. Talvez eu não tenha sabido dizer aquilo
que ela gostaria de ouvir no momento. E talvez, eu tenha até soado um pouco
apática diante daquela situação tão delicada. E é por isso que venho aqui. Para
tentar retratar-me de algum modo, e quem sabe assim, levar até ela algum
consolo. Eu não sei muito da vida. Eu não sei quase nada. E às vezes me
pergunto o porquê de algumas pessoas confidenciarem seus maiores anseios, medos
e/ou sentimentos – pra mim. Talvez, eu aparente ser meio medieval (vulgo,
velha) e passe a segurança de que certamente eu sei senão todas as respostas, a
maioria delas. Mas, cara, eu não sei. É bem verdade que diferente de algumas
pessoas, eu me permiti viver aquilo que bem quis, da forma que quis. Sempre
segui os meus instintos mais primitivos e a minha sábia intuição. Fui quando
achei que devia ir. Falei quando achei que devia falar (e, quando tinha certeza
que seria melhor calar, também.). Arrisquei intensamente naquilo em que eu
acreditei ser de verdade. Tentei mil vezes o mesmo caminho, antes de escolher outro.
Mas eu digo e repito: Da vida, eu sei muito pouco ou quase nada. Então vou
tentar da forma mais cautelosa possível, te dizer em poucas palavras, o que eu,
pude concluir da sua situação.
Eu acho sinceramente que devíamos todos, respeitar
profundamente aqueles que de algum modo, sentem por nós, algum afeto especial.
Eu acho bem indigno que escutemos os sentimentos de alguém e ignoremos sem
pudor algum. Eu imagino o que o silêncio desse rapaz, provocou em você. Também
já estive em seu lugar, e sei que quando extravasamos aquilo que temos de mais
bonito em nós – para alguém – tudo o que menos queremos, é desprezo e/ou
indiferença. Mas desde já, é preciso que você se convença de que, silêncio
TAMBÉM é resposta. E não adianta tentar deduzir milhares de situações menos
perversas, que tenham levado alguém a ignorá-la. Você nunca saberá, senão pelo
próprio indivíduo que te ignorou, o real motivo pelo qual ele preferiu
manter-se em silêncio. Mas, de uma coisa eu posso te assegurar. Se ele sentisse
o mesmo por você, se ele se importasse com aquilo que você tem de mais puro,
ainda que sentisse mágoa, a última coisa que ele faria, seria ignorá-la. O
contrário do amor, não é o ódio, minha querida, é a indiferença. E isso a vida
também vai te ensinar. Eu já estive em posição degradante por muitos anos da
minha vida. Também já me humilhei e me deixei ser alvo de escárnio por quem
mais amei. Também já me menosprezei e permiti que fizessem de mim, uma versão
bem medíocre de tudo aquilo que realmente sou. E quer saber o que descobri no
final? Que não há nada mais reconfortante do que estar em paz com a própria
consciência. A culpa não é sua, que deu tudo o que tinha. E, sabe? A culpa
também não é dele. Eu sei que é bem revoltante ler isso, mas, é a pura
verdade. Nós somos responsáveis pelo que dizemos e fazemos, mas nunca, nunca
seremos responsáveis por aquilo que sentimos ou não sentimos. Os sentimentos
são involuntários. A gente sente ou não. E não é culpa de ninguém. E não é
porque ela é mais bonita ou mais instruída que você. Ela podia ser a criatura
mais horrenda do universo e ainda assim, ele morrer de amores por ela. Não é
culpa dela, também. É preciso que você aceite isso da forma mais natural
possível. Às vezes, damos tudo a alguém. E ainda assim, não é o suficiente.
Simplesmente não é o suficiente. Daí aparece uma criatura, sei lá de onde, e
conquista a afeição (que lutamos arduamente pra conseguir) de quem amamos (da
maneira mais piegas e clichê que possa existir). Daí quem amamos passa a ser um
gentleman para essa criatura e passa a fazer coisas que não fazia conosco e por nós. E começa a agir como sempre sonhamos que ele agisse. E é claro que
isso revolta. Revolta bastante. Não é que ela a última bolacha do pacote, ou ele, um cretino da pior categoria. Só não era você. Só não era com você. Eu
acredito que, cada pessoa tem uma missão em nossas vidas. Quando aprendemos o
que tínhamos que aprender com elas, elas partem. E não há nada que possamos
fazer, para impedi-las de ir. Eu queria poder ser mais positiva. E te dar esperanças
de que um dia ele vai perceber a grande garota que você é, e vai dar valor a
tudo o que você fez por ele quando ele estava na pior. Mas eu não posso.
Porque talvez... Talvez ele nunca valorize. Não do jeito que você espera. E
talvez, ele não volte... nunca mais... Para dizer que sente muito e agradece
muito também, por tudo. Imagino que nesse momento você deva estar se
perguntando cadê a justiça divina que não toma nenhuma providência. Que não faz
esse desgraçado chorar cada lágrima que você derramou. Mas é que eu aprendi
também, que não é bem assim que funciona. Deus é um só. Independente se você é
protestante, católica, hare krishna ou da macumba – ele é um só. E é pai maior,
de todos nós. Não há como esperar que Deus castigue um filho seu. Então não
peça ou espere por isso. Deus não castiga ninguém. Ele, perfeito como é, nos dá o livre arbítrio
de agirmos como nos prouver e colher os nossos louros. Nada fica inacabado na
vida. Nada fica sem resposta ou é por acaso. Cada pessoa que passa por nossas
vidas, cada obstáculo, cada dia de chuva ou de sol, tem um propósito. Existe
uma lei maior que nos rege e nos governa. Deus nos dá a liberdade, mas não
impede que o destino se cumpra e nos aplique as lições das quais necessitamos
para aprendermos a ser melhores. Acontece hoje e só compreendemos amanhã. Eu
sei que hoje, metade das coisas que eu escrevi aqui, não fará sentido pra você, e
talvez, pareça que eu esteja em defesa do tal rapaz, mas acredite, eu não
estou. A vida é dura, querida. Ela não alisa ninguém. Eu queria ter tido lá
atrás, alguém que tivesse me mostrado à vida, como hoje eu estou mostrando a
você. Mas eu não tive. Não adianta praguejarmos. Não adianta torcer contra,
desejar o mal. Deus é justo. E se a vida permitiu que você passasse por tudo
isso, é porque você precisava passar. É preciso reconhecer quando ao sofrimento passa
a ser uma escolha (Um ritual o qual cultivamos ainda que involuntariamente e pior, um ritual o qual nos acostumamos e não desejamos nos desvincilhar). Quando o poder de modificar o rumo das nossas vidas, está em
nossas mãos. É preciso reconhecer quando era hora de deixar ir, desprender-se,
desapegar. Não por orgulho ou vaidade, mas porque aquela situação já não cabe
mais em nós. Hábitos existem, necessidades não. Você nunca saberá o quanto vale
se nunca for embora. E você precisa ir embora, entendeu? Porque ele já foi...
Lá atrás. Boa ou não, aquela foi a mulher que ele escolheu para ele e essa é
a vida que ele decidiu viver. E você não cabe mais nela, compreende? :/ Você
não pode passar o resto da sua vida parada na frente de uma porta que você não
sabe se um dia vai se abrir novamente pra você. Só Deus sabe. E não vale a pena
jogar a sua juventude (que é tão passageira) fora, por um leque de incertezas (à espera de algo que você não tem como saber se um dia se modificará).
Viva, minha querida! Viva! Porque a vida é muito curta pra ser pouco. E
quando você abrir os olhos, ela passou. Simplesmente passou... Bem diante de você... E não haverá mais nada a fazer.
Em suma: Perdoe-se! Pelos erros, pelos enganos, pelas
falhas. Pelos anos que você (hoje) julga ter jogado fora, pelas noites que passou
em claro, pelos quilos que engordou, pelas chances que desperdiçou, pela
dignidade deixou passar e pelo orgulho que pisou. Perdoe-se! Pelo amor em excesso,
pelo afeto singular e pelo respeito que devotou. E perdoe-o! Por não ter
conseguido amá-la como merece, pelas palavras que não te disse e por toda dor
que te causou. A gente não erra por que quer. Na maioria das vezes, a gente
erra porque não sabe fazer certo. Somos infinitas crianças aprendendo a amar e
a viver. Então, perdoe-o! Peça a Deus para limpar seu coração de toda mágoa, de todo
rancor e de toda angústia. E me prometa duas coisas: A primeira é que não vai
sair por aí, se entregando a primeira história mediana que aparecer, porque
decidiu se convencer de que não é boa o bastante e não merece nada além de
migalhas. Eu sei bem como o fim de certas histórias, deixa em nós a sensação
de que nunca seremos o suficiente pra nada e pra alguém e por isso, jamais
mereceremos um amor decente. E isso é pura babaquice, viu? Das grandes. E a segunda é que
você vai cuidar de você, amar você e zelar por você. O universo nos entrega
aquilo que a gente acha que merece. Então, acredite que você merece muito, ok?
Você é jovem... :) Muito jovem! Tem toda vida pela frente e um montão de sonhos pra viver. E se Deus quiser, as respostas vão aparecer... para que você compreenda o porquê de cada coisa. E acredite... O tempo é Deus! E Ele vai te ajudar a se libertar de tudo que te trava o riso. Você ainda vai ser muito feliz... Eu tenho fé. E você?
Um beijo, no seu coração.
Sté.