Do que a gente aprende...
Deixar partir, nem sempre nos dá outras opções. E é tão estranho quando algo precisa terminar. Aceitar as coisas como são nem sempre significa compreender o porquê não foram bem do jeito que gostaríamos que tivesse sido. Existe um limiar entre o passado e o presente, que não devemos ultrapassar. Chega uma hora, que sentimentos grandiosos se reduzem a nada. O nada que você optou para não sentir mais dor. Bem no início você chora, faz drama mexicano, faz birra feito criança – mas, passa. Passa porque tem que passar e você se recusa a prolongar esse tipo de ritual. Você percebe o quanto é cansativo manter esse jeito de levar as coisas. Acostuma-se. Porque quando você se cansa, o destino se renova e a vida dá as voltas necessárias para que você amadureça e receba de braços abertos o que ela tem a te oferecer. Não é que para de doer. Mas é que você aprende que, às vezes, quando perdemos algo, é porque bem ali na frente você ganhará. Aceitar que nada foi em vão é prolongar seus anos de vida. Quando algo termina, nem sempre há solução. Então você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, porque uma hora vai ser, sabe? Talvez o eterno não exista mesmo... E nós, imensamente pequenos, para compreender ou aceitar isso.
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— É possível um rio secar completamente?— Claro que é.— Mas será que ele não enche depois? Nunca mais?— Alguns sim, outros não.— Mas nunca mais?— Sei lá, acho que não.— Você tem certeza?— Certeza eu não tenho. Só estou dizendo que acho. Afinal não sou nenhuma especialista em matéria de rios, secos ou não.— Sabe?— O quê?— Eu tinha esperança que o rio voltasse a encher um dia.
(Caio Fernando Abreu)