O esforço para lembrar é a vontade de esquecer.

Hoje são 6 de fevereiro de 2013 e faz bastante frio no meu quarto. Eu não sei dizer exatamente se é no meu quarto ou no meu peito, que faz mais frio. Mas isso é algo que eu definitivamente não vou descobrir à quase uma da madrugada. Faz tempo que eu tenho tentado incessantemente colocar pra fora, chutar o balde. Mas ainda é bem difícil. Porque o silêncio é uma prece. E num mundo onde as pessoas saem cuspindo o que não devem, por pura ignorância ou mera hipocrisia, é bem melhor ficar quieto. Hoje são 6 de fevereiro de 2013 e faz bastante frio no meu quarto. E eu confesso que, também faz aqui, no meu peito. Mais um ano se passou e já faz quase quatro meses que nos perdemos. E eu mudei bastante... Pensei em mudar de curso, de cidade e aprendi a esperar. Bebi os vinhos mais caros, estourei o cartão de crédito e ainda estou trabalhando para pagar. Descolori os cabelos, só pra depois descobrir que eu gosto mesmo é quando eles estão bem negros. Às vezes a gente tem tudo, mas ainda não é o bastante. Lembrei você e de quando tudo começou. Não sei responder se estávamos fadados ao fracasso, ou se por toda nossa juventude inconsequente caminhamos inconscientemente para o fim. Descobri que o desequilíbrio faz parte do equilíbrio. Então tudo bem se você se desequilibrar vez em quando. A paz está para a tormenta, assim como você esteve para mim. Olhei-me no espelho e não me reconheci. Eu que sempre fui tão insegura e inconstante, encontrei a linha tênue entre o orgulho e a honra e pude então me amar pela primeira vez. Meus olhos esguios e desconfiados procuraram por toda parte, aquela mulher que te amava ensandecidamente... Calei. “Volte para cama, Sté!” – disse a mim mesma. Era a única coisa sensata a se fazer, quando eu estava insone, em busca de respostas, que eu sei exatamente onde estão e que não vão mudar porra nenhuma, nessa altura da minha vida. Eu queria te encontrar um dia desses, só para dizer olhando nos seus olhos, o quão babaca você é, por ter perdido uma mulher como eu. Que outra mulher o amaria além da casca? De bom filho, marido, cristão, metido a riquinho ou cantor. Eu amei você, cara! Amei sua lama, suas mentiras, suas frustrações. Amei você, com suas amantes, seus lençóis sujos, suas ausências, suas promessas, sua intempestividade, seus calos, suas manias. Amei seu mau humor, suas grosserias, sua melancolia. Eu amei tudo... Tudo o que todas as outras sequer chegaram a conhecer.“Diga-me quem mais perdoou na vida, e eu te direi quem mais amou.” Eu amei você. E dói... Dói muito saber, que eu fui a única, que você jamais chegou perto de amar. A única que você fez esperar e em vão por todo esse tempo. A única que você jamais cogitou a possibilidade de levar em casa ou no churrasco dos amigos. A única que você rejeitaria um filho e renegaria qualquer vínculo perpétuo. Dói. Dói muito... Porque de todas as mulheres que você conheceu, eu fui a única que te amou profunda e imensamente. E talvez esse seja o meu maior karma. Lamentar dia após dia, por ter dado tudo que eu tinha e guardei no âmago da minha alma, para alguém incapaz de acolher um amor tão puro e tão intenso dentro de si. A gente não pode dar o que não tem. Hoje eu sei. Se você só me deu dor, mágoa, traição, mentira em cima de mentira, é porque era somente isso que você tinha pra dar. Talvez não seja culpa sua. Cada um é o que é. Ou você aceita e segue com isso, ou você não aceita e segue sem isso. Quando eu paro para pensar na minha vida, eu descubro que, eu sou feliz, sabe? De verdade. Mas a parte que me faz lembrar você e ir lá atrás, me faz infeliz demais. Quando eu penso em você, no que poderia ter sido e não foi eu sou infeliz demais. E eu sei que é muito tarde, para ressuscitar tantos demônios, mas eu precisava te dizer que... Eu nunca vou perdoar você. E não é por birra, não. É que eu não consigo reconstruir a parte de mim, que você levou embora, quando decidiu morrer em vida, na minha vida. Você detém a parte mais bonita de mim, e acho que nem sabe. O brilho dos meus olhos tão pequenos e castanhos, ou a covinha no meu rosto que se abria a me ver sorrir, a sudorese nas mãos e a taquicardia. “O que me dá raiva, não é o que você fez de errado, nem seus muitos defeitos, nem você ter me deixado. Nem seu jeito fútil de falar da vida alheia. Nem tudo o que eu não vivi – aprisionada em sua teia. O que me dá raiva são as flores e os dias de sol. São os beijos e tudo que eu havia sonhado pra nós.” (Leoni). Eu nunca vou te perdoar. Eu nunca vou te desejar felicidades ou escrever um cartão, desejando boas novas e uma trepada fixa e sensacional. Eu nunca vou esquecer o homem que eu mais amei em toda a minha vida e ainda assim destruiu tudo o que havia de bom em mim. E o bom sábio me diz que é preciso seguir em frente, e ao lembrar você, te emanar bons fluidos de amor e paz – mas ainda é cedo, e eu sou muito jovem para perdoar. E o mestre indiano que leu a minha mão, jurou de pés juntos, que eu vou te amar pra vida toda, e eu até acabei me esquecendo de mandá-lo à merda. Mas a verdade é que eu repudio as respostas que a vida me traz, quando penso em nós. E porque eu desprezo qualquer pessoa que me afronte dizendo que todo esse ódio declarado é puro amor ressentido. "Se você tem a coragem de deixar para trás tudo que lhe é familiar e confortável (pode ser qualquer coisa, desde a sua casa aos seus antigos ressentimentos) e embarcar numa jornada em busca da verdade (para dentro e para fora), e se você tem mesmo a vontade de considerar tudo que acontece nessa jornada como uma pista, e se você aceitar cada um que encontre como professor, e se estiver preparada, acima de tudo, para encarar (e perdoar) algumas realidades bem difíceis, sobre você mesma... então a verdade, não lhe será negada." (Elizabeth Gilbert).O problema é que eu sei a verdade, toda a verdade. Mas eu a repudio com todas as vísceras do meu corpo. E eu me recuso, a continuar supervalorizando uma saudade que jamais permitirei ser sanada, por um telefonema que seja. Você está morto. E a gente não pode rezar a noite, pedindo a Deus que ele ressuscite os mortos. É mórbido, é doente, é proibido. Então eu posso terminar esse texto, tomar um banho quente e deitar nos meus lençóis lindíssimos de seda, que ganhei de presente de casamento e continuar indo em frente. Ou eu posso ligar no seu celular a uma da madrugada, interromper sua trepada mediana e pré-adolescente com aquela prostitutazinha de espinhas na cara e dizer tudo que eu ainda sinto, mas não posso (e me arrepender pelo resto da vida por isso). Então eu prefiro a primeira opção. Porque o correto nunca foi fácil, principalmente quando a maioria tem um bloco de gelo, onde deveria bater um coração. "Está nas estrelas, foi escrito nas cicatrizes em nossos corações. Não estamos quebrados, somente fora do eixo. Nós podemos aprender a amar novamente..." (Pink).
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