Foi embora, mas eu nunca disse adeus!

Sabe... Talvez no fundo, ainda sejamos um pouco egoístas, ao esperar que ao ir embora, o outro ainda lembre-se de nós, e quiçá, sinta a nossa falta também. Quanto a mim, sei que sempre fui muito minha e de mais ninguém. Sempre tive medo de estar inerte nos braços de alguém, nas mãos de alguém e de joelhos. Eu não sei em qual tarde, ou em qual noite, você passou a ser dono de mim, mas do que eu já consegui ser por toda uma vida. Mas você foi. Você é. E eu sei que eu desliguei o telefone naquela noite, disposta a ferrar a sua vida, e gritar para o mundo que a vagabunda aqui, nem sempre foi mocinha, mas sempre deu tudo de si e por você. É. Acho que eu quis mostrar que eu era mesmo aquela porção de coisas ruins que você disse sobre mim. E eu mostrei. Eu ferrei você. E acho que você nem sabe. Mas hoje, não importa mais. Eu que nunca fumei, ascendi um cigarro atrás do outro. E entre a fumaça do cigarro e o vinho estupidamente morno, eu imaginava se dessa vez seria mesmo definitivo. Se por fim e enfim, nos tornaríamos estranhos... invisíveis pro mundo, para nós mesmos. Acho que por todos esses anos, o meu maior medo, nem era ser substituída por uma dessas dançarinas de funk baratas, ou por uma ninfeta com um vocábulo de no máximo 10 frases prontas, tampouco ser menosprezada e sentenciada como culpada perpétua por erros que no meu ápice de maldade e revanche, eu jamais teria a falta de escrúpulos para cometer. O meu maior medo, sempre foi ser passada à borracha... como se tudo vindo de mim fosse escrito a lápis, daqueles bem vagabundos, fáceis de ser apagados (pelo tempo, ou por um desses amores que você inventa, que duram pra sempre – e – acabam cedo, só pro seu prazer). Mas você duvidou, e acusou, e ofendeu, e feriu na alma e eu revidei. Sem dó. Sem pena. E ferrei com você. Assim mesmo, com todas as letras e bem feio. Mas acho que você nem sabe. E hoje, não importa mais. Eu não queria admitir, mas... Ainda me soa estranho escrever sobre outra coisa que não seja você e essa falta que você faz, sei lá porquê. Acho que sempre fomos uma espécie de alienígenas do amor. Não temos nada para ser devolvido. Nenhum presente, nenhuma fotografia, nenhuma carta envelhecida, nenhum CD com músicas antigas, nenhum cupom de cinema ou coisa assim. Não temos nada, que justifique um último encontro ou uma despedida triunfal... daquelas que a gente se recorda pro resto da vida e ainda conta pros netos. Não fomos nada... Nada além de um romance falido e impresso em folhetim. Nada além de beijos, sexo e poesias... Lágrimas, tardes e vidros embaçados. Despedidas, caixa postal e ofensas. Somos... só... fim. Eu não espero que você fale bem de mim pros seus amigos, nem que dia desses, você telefone num Domingo, só pra saber como andam as coisas. Eu só esperava que você me mantivesse viva na sua memória. Porque sem isso, eu viro página virada, sabe? Viro uma história que você viveu num dia desses. E, sabe... Ante-ontem, uma amiga se referiu ao antigo namorado como “aquele que não me fazia gozar, nem com reza.” E imaginei como é que eu estaria sendo chamada agora, ou num futuro próximo. “Aquela que”. Que não fumava. Que não sabia dizer adeus. Que fingia ser interessante só pra você se interessar. Que te amava... profundamente.Não é remorso ou vontade de voltar atrás e refazer as coisas mais uma vez e de novo... é só... É só o meu direito de não ser esquecida. É a minha esperança. Que por mais que tenhamos acabado, você me prolongue um pouco mais... nos seus sonhos, no seu coração. Tudo bem se a gente nunca mais se vir, sabe? De verdade. A gente não precisa se esbarrar nunca mais na vida. Mas é que dói... Dói me lembrar de quando éramos jovens e jurávamos coisas que nos reconhecíamos capazes de cumprir, mas que hoje, não fazem o menor sentido... e pensar que talvez você nem se lembre de mim. Dói... E não é justo. Não é justo que só eu carregue as marcas. Não é justo que tudo aquilo a que me refiro se apague da sua cabeça com a mesma facilidade que o meu cigarro se apagou enquanto a noite caía.
-


-

"Eu fico imaginando, sua casa e seus amigos.
Com quem você se deita, quem te dá abrigo.
Eu me lembro que eu já contei com você...
Guardo pra te dar, as cartas que eu não mando.
Conto por contar, eu deixo em algum canto.
E as pilhas de envelopes, já não cabem nos armários.
Vão tomando meu espaço, fazem montes pela sala.
E hoje são a minha cama, minha mesa e meus lençóis...
E eu me visto de saudades, do que já não somos nós."

Postagens mais visitadas