"Milagres acontecem quando a gente vai a luta."



Kings of leon, Use somebody...


Ontem eu acordei animada para o primeiro dia de aula, como quando eu era criança. Lembro-me que separava o uniforme à noite já pro dia seguinte, e na mochila, organizava os cadernos as massinhas e o estojo repleto de canetinhas de todas as cores. É estranho reviver certas emoções. E é estranho me sentir como lá atrás. Imersa na profunda ingenuidade de não saber. Quando a gente cresce, tende a complicar o que na essência nem é tão complicado assim. Eu quis mudança, então mudei. Fiz as pazes com a balança e enxuguei alguns quilinhos. Enjoei do cabelo, então mudei a cor e cortei. Pintei as unhas de um negro luminoso que nunca me atrevi antes. Mudei de casa, mudei de faculdade, construí novos planos e substituí alguns sonhos. Mas aqui dentro, bem aqui dentro, sabe?

(Silêncios...)


O tempo é o melhor remédio pra curar o próprio tempo. Ouvi de um velho sábio, que era preciso juntar todos os meus pedaços, dispersados em meio a tantas andanças e seguir em frente. E eu tenho seguido. Da maneira mais bonita que posso. Ainda que torta. Meus amigos estranham o fato de eu ter vencido a minha mania intempestiva, de falar de você de cinco em cinco minutos. E embora se sintam aliviados, sei que eles se questionam furtivamente, se de fato eu o esqueci. E eu me divirto. Da curiosidade não cessada, quando me crivam de perguntas, estilo: "E ai, tem visto ele?" ou ainda, "Você pensa em procurá-lo?" - e eu apenas sorrio e respondo, que: "Já passou, já passou. Quem sabe em outra vida?".


Acho que toda a experiência que essa nossa trajetória me trouxe, me fez compreender que, às vezes, a única coisa que a dor espera da gente, é calma. Paciência, sabe? Para deixarmos ela doer por inteira e bem quietinha no canto dela, para que possamos florescer depois. Em outros tempos eu teria mandado a terapeuta, a cartomante, o pastor, o pai de santo, o mestre budista, os guias espirituais - todos - a puta que os pariu - por me dizerem que somos como água e óleo, impossíveis de fundir. Só que hoje não. A vida não deixa nada inacabado. E ainda que não enxerguemos quando uma etapa chega ao fim (imersos na nossa profunda ignorância), quando algo não foi feito pra vingar, o universo reúne as provas necessárias para que a gente enxergue e no tempo certo, aceite.


Em outros tempos eu teria mandado TODOS, a puta que os pariu. Só que hoje não. Você sempre me deu provas do quanto me amava. Só que ao contrário. E você discursava sobre o quanto queria que fôssemos diferentes, mas era mentira, sabe? Porque quando a gente quer algo e de verdade, a gente luta, se esforça, enfrenta o mundo e vai em frente. A gente escolhe diferente, quer diferente, faz diferente. E você... sempre fez tudo igual. E mesmo que hoje seja tão claro, o quanto eu desperdicei a troco de nada, tantos anos da minha juventude, eu não te condeno. Por nada. A gente dá o que é. E você não podia dar mais, porque simplesmente não tinha pra dar.


Eu só sei que vez em quando eu ainda procuro nas calçadas os seus passos. O som da sua voz ou o barulho do seu carro. Eu ainda saio de casa, na disposição de encontrá-lo entre um corredor e outro. Mas vai passar. Está passando. Porque eu já me esqueci do número do seu telefone. E pra lembrar do seu rosto, eu preciso fazer um grande esforço. Você não está mais presente nos meus sonhos, e eu já não me desdobro pra encaixá-lo nos meus planos. Eu não penso mais em você a cada dia e a cada noite - incansavelmente. Porque você está indo embora, sabe? De mim. E isso é absolutamente irreversível.




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