Irreversivel


Ouvindo Sorriso Maroto, bem ali.

Acho que projetei em você, o vislumbre de uma perspectiva mais bonita e sincera de quem eu sempre acreditei que você pudesse ser. Eu tinha esperanças, sabe? De que um dia, toda essa projeção se tornaria realidade. E talvez eu tenha criado um universo só nosso, para tentar consertar essa nossa narrativa trágica, improvável e frustrada. De tudo o que a gente (não) viveu, mas podia. E é no pretérito mesmo. E eu comecei a achar isso bem triste. Porque você está indo embora, sabe? De mim. E isso é absolutamente irreversível. E vezenquando dá uma sensação meio Adriana Calcanhoto “Vem vambora, você tem meia hora pra mudar a minha vida”, mas vai passar. Porque eu me conheço. E eu já comecei a achar você bem imbecil. Cretino até. E eu lamento, sabe? Profundamente. Porque podia ter sido incrível. Absoluta e imensuravelmente incrível. E nunca, nunca mais vai ser. 

É isso! Um brinde... A todas às impossibilidades que deixamos pra trás ou que não tivemos chance de viver. Pra que elas se libertem e encontrem outro rumo. Eu só sei que... O mundo gira e hoje ou daqui a cinquenta anos, você sempre terá a incógnita do que nunca encontrará por aí... (não tão cedo.) (Não como a gente.) (Não em ninguém.) (Não como eu.) Só que eu não vou estar mais aqui.

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[O texto foi publicado em Set/2011, mas a reflexão continua valendo. Escrito e publicado originalmente aqui.]

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