Esmeralda


- Preciso ver Esmeralda. Ter uma conversa séria com ela. Saber-lhe se os sentimentos dela ainda pertencem a mim.

-
De que te importas? Por acaso pretendes largar sua família para viveres com ela?

Carlos sobressaltou-se.

-
Eu não disse isso.

-
Achas que ela vai se contentar com menos? Se não desejas enganá-la de novo e se nao pretendes abandonar os teus, nao seria mais prudente deixar as coisas como estão?

Carlos reconhecia que Miro tinha razão. Ele estava dividido. Amava os pais, a esposa, os filhos, seus bens, sua igreja, a vida que levava. Não pretendia deixá-los. Por outro lado, Esmeralda o atraía de forma irresistível. Todo seu ser chamava por ela, por seus braços de fogo, por seu corpo voluptuoso. Ele não queria escolher. Desejava colher o fruto de tudo, mas no fundo sabia que fatalmente chegaria a hora em que teria que optar. Estava quase certo de que Esmeralda não iria vencer essa luta. 

(...)

Cinco anos se passaram desde o reencontro. Carlos por vezes sentia-se inquieto, triste e insatisfeito. Nessas horas procurava afastar o pessimismo com esforço. O que lhe faltava? Tinha tudo para ser feliz. Era rico, amado pelas mulheres, tinha uma esposa fiel e dedicada e filhos pródigos. Tudo estava calmo. Porque Carlos sentia insatisfação? Momentos havia em que recordava Esmeralda. Desejava-a. Sentia o gosto de seus beijos e a maciez do seu abraço. O reencontro, tudo voltava à sua mente nesses momentos Carlos inquietava-se sem saber como afastar o desejo, essa ânsia, essa necessidade de rever a cigana. Apesar disso, ele sabia que tinha sido melhor assim. Amava a família, o lar, tudo, jamais os trocaria pelo amor da cigana. Porém ela era o proibido, o inatingível, a fantasia, o exótico, a liberdade, a mulher que muitos queriam e que ele podia ter só pra si. A mulher que o seu rival idolatrava. Por certo, ele estaria com ela, tinha-a nos braços, aquele imbecil, que era incapaz de dar a Esmeralda o que ela precisava como mulher.

(...)


Esmeralda - Zíbia Gasparetto.






E por tantas vezes, tomam-nos a nossa história e contam por aí. Existem tantos Carlos e Esmeraldas pelo mundo. Ele, rico e católico. Ela, cigana e espírita. Não tinham nada em comum, além do profundo sentimento e encanto que os unia. E mesmo a cigana lhe roubando sempre o pensamento e a alma, não era o suficiente para que Carlos abandonasse todo o resto. Porque às vezes, não é mesmo. A gente precisa é vencer aquela parte de nós que costuma julgar aquilo que não compreende. O amor precisa ser veículo de libertação, não de apego. Quem ama verdadeiramente aprende a respeitar a liberdade de escolha do ser amado. Sabe? Sim... só que não.

Porque eu te perdoaria a vaidade se não tivesse ferido a minha...
Mas feriu. 
E muito. 

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