As mentiras que contei pra você

Ouvindo, Kelly Clarkson... aqui!


Eu menti quando disse que não era mais aquela menina que você seduzia, só para satisfazer a seu ego imensamente medíocre e egoísta. Se você pudesse ouvir a marcha que o meu coração toca, ao te ver, você faria deboche, do quão vulnerável, eu sou diante de você.

Eu menti quando disse que não me importava se você sumiria por um ano ou pro resto da vida. Se você pudesse ver por um momento, como eu ficava a tua espera, você nem acreditaria. A cada vez que o meu telefone tocava ou surgia um novo email, eu pensava: “Só pode ser ele.” E não, você não pode vislumbrar a minha cara de decepção, quando a voz do outro lado não era a sua, e as inúmeras linhas que eu lia, eram apenas mais um trabalho da universidade.

Eu menti quando disse que não precisava de você. Por mais feliz que eu pudesse parecer, por mais tranquila que eu estivesse, eu era sempre metade. Uma metade em busca de você. Era você que eu procurava, quando gargalhava alto, ou quando passava carmim nos lábios ou pintava as unhas (agora grandes) de vermelho scarlett. Eu festejava, porque era preciso festejar, e eu dançava porque é preciso dançar também. Mas a solidão, essa nunquinha me deixava, já que ela estava cansada de se ludibriar.

Tantas vezes eu fingi indiferença, mas foi só para fazer tipo. Confesso que, até as pequenas coisas, mexeram muito comigo. E por todo esse tempo que estivemos distantes, eu trabalhei cada olhar, cada timbre, cada gesto, para que você não pensasse, nem por um só momento, que eu estava à mercê dos teus caprichos mais uma vez. Você notou?

Pra ser sincera, às vezes – mas só às vezes – eu também sinto um pouco de saudade. Nesses momentos, eu me sinto capaz de escutar o seu riso, desengonçado, gostoso, me chamando pro aconchego. Também tem o seu cheiro, que senti hoje pela manhã, quando caminhava voltando da padaria. Mas daí eu percebo que todas essas coisas, ecoam lá no fundo da minha memória. Já tão congestionada, de guardar lembranças tuas. Boas e más.

E então eu vejo – não sem antes lutar contra mim mesma umas dez vezes – os dias em que ríamos juntos. Sem motivos. Como se não houvesse no mundo, ninguém... além de nós. Lembra que o nosso plano, era vencer a distância, morar no interior e criar nossos filhos? Pergunto-me se você também se pergunta aonde foi parar a nossa coragem e todo aquele amor.

A gente se perdeu nesses caminhos tortuosos da vida. Nessas estradas escorregadias, que ninguém tem garantia de coisa alguma. O pra sempre é muito tempo. E sim. Nós já devíamos saber que não éramos super-heróis para sermos os únicos a vencer isso.

Assim como eu também deveria saber que esse papo de ser forte e seguir em frente muito-bem-obrigada-sem-você, era pura hipocrisia mundana de quem não quer dar o braço a torcer. Vê: Repara nesse meu sorriso murcho, nesse meu olhar de anjo que perdeu as asas e não aprendeu ainda a caminhar. Nota o meu cansaço. De carregar o resto de mim que sobrou do tudo que entreguei a você. Enxerga os meus ombros, já tão caídos do sobrepeso desse amor desperdiçado.

Então eu cedo. Fadigada de tanto negar. Eu confesso. Que te amo sem tamanho e sem limite. Mas escuta: Isso não significa ceder ou perdoar. É que eu preciso tocar a vida sem levar nada teu, nem as farsas, nem as promessas, tampouco os desejos. Eu quero é viver a vida, ainda que pareça clichê.

E se é mesmo pra começar a contar verdades, confesso que, essa foi a última mentira que contei pra você.




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Tenho pensado no que um velho sábio me disse: “- Procure a sua verdade. Pague o preço. E você encontrará a paz que tanto procura”. Queria ter perguntado: “- De qual forma?”, mas preferi silenciar. Lembrei-me de como era bom, ser a Stephanie de três anos atrás. E pensei em como seria maravilhoso, se os sentimentos que habitam nossa alma, terminassem no exato momento em que determinamos. (Suspiros). Mas não! A impressão que eu tenho, é que nunca vai sarar. Que só de esbarrar, sangra. É como se a ferida, não tivesse tido forças o suficiente para se tornar cicatriz, para formar uma casca protetora. Hoje, sinto o gosto amargo dessas lágrimas, mas não as impeço. Há tão pouco para se fazer, que eu me proíbo. São tantas as palavras, mas eu renuncio. E eu sinto tanto. E é triste. Que exista tanta vida para se viver, e eu prefira empurrar com a barriga. Que existe tanta gente boa nesse mundo, e ainda assim, eu prefira a solidão. Acho que se eu pudesse voltar atrás, e me impedir de perder o que de mais bonito eu possuía, eu faria. Eu me tornei tão áspera, tão rígida, comigo mesma e com os outros, que às vezes, nem a minha própria subjetividade suporta. E eu me entristeço. E talvez, o sábio tenha razão. Talvez, eu só precise entender a razão pela qual estou vivendo. Eu só precise pagar o preço. Mesmo que eu caia, mesmo que eu me arrependa, mesmo que eu sofra. Só que hoje não... Então eu sigo assim: Com esse vazio sustenido. Encorpada na falta... de quem não soube me ter. De quem eu desisti de querer.

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"Não deixe portas entreabertas. Escancare-as ou bata-as de vez. Pelos vãos, brechas e fendas passam apenas semi ventos, meias verdades e muita insensatez."

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