Para aquela que eu amo.

Alanis Morissette, ali.

Stephanie,

Escrevo pra lembrar-te de algumas coisas já esquecidas em você. Tenho notado que você anda se entupindo de excessos e que todo o emaranhado de sentimentos confusos e opacos dentro de você, tem roubado teu sono. Escrevo enquanto te olho por dentro... O que vejo em você, não precisa ser bonito. Eu nasci para amar tudo em você! Até as partes feias... Escrevo pra te dar carinho, porque te conheço inteira, mesmo naquelas horas em que tudo é silêncio e sombra ou naquelas horas em que tua gargalhada faz sol, iluminando cada canto da cidade nublada. Desse seu corpo que nasceu para abraçar o mundo, eu conheço cada poro, cada taqui-bradi-cardia. 

Conheço cada suspiro ou falha na voz. Toda a força das tuas lágrimas, que sempre caem sem fazer barulho, sem deixar vestígio. A intensidade das tuas palavras que não admitem tutelas, mesmo que provisórias. Eu te conheço além das tuas relações nada convencionais com as pessoas que você ama, às vezes muito mais que você, ou com aquelas que você se recusa a odiar por mais de um mês, pura e simplesmente porque não admite desperdiçar tempo e energias com coisas mesquinhas. Eu te conheço doendo. Eu te conheço em paz. E sei quando você finge pras pessoas que está bem, só para que elas se sintam à vontade de expor tudo, que as afligem; Enquanto você sorrateiramente, guarda a própria dor no bolso. Eu conheço aquele sorriso de canto de boca que você usa, quando insistem em perguntar inconvenientemente, do passado doloroso que você ainda luta arduamente para esquecer. E é por isso, Stephanie, que eu sou a pessoa que mais poderia amar você. 

Não me interessam teus erros, teus enganos ou teus ímpetos de andar pra trás, só pra sorrir outra vez. Me interessa o que você aprende, apreende, absorve. Me interessa é como você se transforma e tem o costume de renascer de onde ninguém julga possível... das cinzas. Interessa é o teu olhar ansioso e alegre, sobre todas as coisas simples e cotidianas, como se descobrisse diamantes aonde só viam cacos de vidro. O que é interessa é você não temer a morte, nenhum pouco. E ainda assim, hipervalorizar a vida. Você que nunca foi boêmia, me encanta com esse ar campestre que vem por detrás dos teus olhos castanhos. Tua intensidade que às vezes sufoca até você mesma exala perfume por onde você passa. 

Eu te conheço premonitória, cultivando esperanças, só porque a intuição disse que sim, que daria tudo certo... e deu. Eu te conheço esgotada, arrasada, ferida, feroz, rabugenta, decidida. Você é confusa quando quer. Quando o ‘não saber’ te aparenta mais cômodo do que a própria certeza, sempre latente na sua alma. E não é menos Stephanie, por isso. É a outra ponta do extremo. A totalidade. Eu te conheço ingênua, optando por acreditar no outro de novo, de novo, de novo. Mas só até a terceira vez. Eu te conheço com um mau-humor contagiante, com uma disposição que ninguém acompanha e uma alegria tantas vezes solitária – com todos os teus amigos ou sozinha com teus livros. 

Eu nasci para amar você, porque sei dos teus desesperos, tropeços, anseios, destemperanças, desamores, rubores. Sei da tua honestidade quando você sente. E dessa intranquilidade quando acha que feriu alguém. Tuas ambições são de amparar àqueles que sofrem e àqueles a quem você ama. Te conheço acordando de madrugada só pra anotar algum trecho, que fará todo sentido ao amanhecer. Da vontade que você tem de voltar pra casa só pra rascunhar o texto que nasceu durante a caminhada. Das tuas roupas sempre largas - meio moleque, meio moçoila, da tua mania de fazer caretas horríveis em público, e do teu sorriso largo mostrando todos os dentes, da tua irritação com pessoas desconectadas. Teu preconceito com pessoas fúteis, teu casamento com a escrita. 

Stephanie, você vive para a palavra, mas anseia viver exatamente aquilo que ela não alcança. E é por essa e outras singularidades, que eu te amo além do amor. Eu te amo para sempre. Hoje.


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