De armaduras, punhos cerrados, Soldado de Guerra ou simplesmente a Heroína.

"Acho que às vezes o excesso de crítica do nosso próprio olho que insiste em rotular e dizer bem alto: Você não conseguiu tudo o que queria! Esquece de tanta coisa importante... e te deprecia. A gente se critica tão dura e injustamente e esquece de agradecer aos céus por... simplesmente ser quem é?" - Elenita Rodrigues.
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Tenho me sentido cada vez mais só, cercada por essa multidão de pessoas. Tenho preferido o silêncio às palavras – e isso assusta bastante. Eu que sempre lutei por tudo, sempre briguei por tudo quanto acreditava, sempre em busca do impossível, irreal... Olho-me no espelho e sinto certa estranheza ao notar que o que de mais belo e puro eu possuía, já não me pertence mais. E às vezes eu chego a pensar que é irremediável... E que nunca, nunca mais, eu vou voltar a ter. E bate uma angústia. Talvez eu devesse encarar essas mudanças como parte natural da vida, como uma criança que deixa de engatinhar e anda... Como se nunca tivesse rastejado no chão. Porque no fundo a gente sabe que todo casco é proteção... e só. Eu olho em volta, vejo a fragilidade das pessoas e a irracionalidade com que conduzem suas vidas e me enojo... E me recuso, por pura e simplesmente falta de paciência e excesso de conhecimento de que... A vida é mais, sabe? Muito mais do que projetamos nela. A vida não é um amor não correspondido, nem seu complexo de inferioridade que terapeuta nenhum dá jeito. A vida não é o sonho que você desistiu de sonhar ou o objetivo que nunca conseguiu alcançar. É mais. É o sorriso de uma criança, é um Obrigado de alguém há quem você muito ajudou. É um dia de sol. É a brisa leve que bate no seu rosto e te dá à sensação de calma que você necessita pra voltar pra casa... Sei lá. Eu sou estranha, me sinto estranha... É como se esse planeta não fosse o meu lar. E esperam tanto de mim... Sorrisos, equilíbrio, apoio, força. Acho que esse povo todo me tem como o Soldado vitorioso de Guerra deles. Mas eu posso admitir que nem sou? E eu sei que deveria me sentir honrada, por ser exemplo pra tanta gente, mas eu nem me sinto merecedora de coroas e tronos. A armadura que a vida me deu me custou caro. E eu preferiria não ter pagado. Mas tantas vezes eu não escolho... Ninguém escolhe. Por trás de toda essa ousadia, essa independência e do “Cara, não mexe comigo!” existe um “Ei, se você não estiver muito ocupado, cuida de mim?” Eu só queria dizer pra mim mesma, que, a resposta da minha pergunta, é NÃO... Eu não sou obrigada a ser exemplo pra ninguém. E eu não sou responsável pela superação de ninguém. Só por hoje eu me dou o direito de não sorrir e estar bem por isso. E não é que eu não goste de sorrisos, mas hoje eu acordei com saudade de ficar quietinha, me afundar na leitura de bons livros e me embebedar de Suspiros, Metáforas e Epifanias. Só por hoje eu não guardei a minha dor no bolso pra cuidar da dor do outro. Hoje eu amanheci sem a capa de Super Heroína e me dei o dia de folga... Sem o anseio de salvar o mundo e endireitar todas as coisas. Porque eu também não sou perfeita, sabe? E nunca, nunquinha hei de ser. Porque eu preciso escrever aqui pra lembrar depois, que eu sou HUMANA. E antes de olhar o mundo eu preciso olhar bem dentro de mim e perguntar: “Tá tudo bem por aqui?” Se sim, a gente segue... Se não, a gente volta e acerta. Porque só hoje eu compreendi que mesmo que eu deseje profundamente, eu não posso cuidar do outro, se antes eu não cuidar muito bem de mim. Então por hoje... Tá tudo certo assim. Sem armaduras, sem punhos cerrados, sem a disposição incansável de lutar por tudo e todos, sem obrigações, sem o pedo de carregar o mundo nas costas... Porque eu sou filha dEle, não Ele. Amém!


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