Valentina

E todas aquelas pessoas sorrindo à sua volta, só a fizeram perceber que ela se sentia cada vez mais só, mesmo rodeada de gente. Ela se sentia só, porque ela era engraçada e arrancava muitos sorrisos todos os dias e ela tinha milhões de amigos e era amada por todos eles, mas ele não estava lá. Ironia. Tanta gente no mundo pra se apegar, tinha que ser justo aquele homem? E ela esperou que ele viesse ao seu encontro, ela esperou que ele escolhesse a sua companhia na sexta, ela esperou que ele desse a ela apoio, mas só pra descobrir que esperou mais e de novo. E a mesma frustração veio de uma expectativa e da história, que criou sozinha e para si. “Tempestades”, ela pensou. “Preciso me proteger das tempestades”. Quis ampará-la, quis abraçá-la, quis conter as suas lágrimas que caiam desinibidamente à espera do trem, quis contar-lhe outra história. Mas no fundo ela sabia que algumas coisas se aprendem só, mesmo. E nem adianta, todos os avisos e conselhos, não adianta, os sinais divinos. Nem é culpa do outro (que não precisa sentir o mesmo que a gente). Carinho, amor, precisa ser espontâneo... E ela sabia disso. Sabia e mesmo assim, doía. Porque é tão difícil aceitar que acabou, quando tudo parece dizer que tudo aquilo nunca existiu e que tava na cara (e era só ela quem não queria ver)... Mas ela sentia falta. Sentia falta da segurança que sentiu quando abandonou tudo pra segurar as mãos dele (que nem sempre seguravam as dela e quando o fazia, era sempre no escuro), das promessas de futuro, da intensidade do desejo, do amor, da saudade, do “Eu quero você e quero agora”. Dos planos, das vontades divididas espalhadas pelas quatro estações, das gargalhas, dos beijos intermináveis, dos olhares em silêncio que diziam tanto, das ligações só pra saber se estava tudo bem, do “Eu sei que é pra sempre.”. Mas o disco era outro, o momento era outro... Quis dizer a ela que as coisas têm seu tempo e que ela precisa ter paciência. Mas os precipícios que existiam dentro dela, arrastaram para longe todas as memórias dele, em silêncio. Porque o que ela queria do mundo, era algo divino, algo infalivelmente divino. Não a lembrança distante do que havia sido incrível... Um dia. Porque no fundo, ela tinha todas as certezas que precisava pra deixá-lo ir (de dentro dela), mas não cicatrizava, não passava... Nunca. E não importa quantos cafés eles tomassem juntos, ou quantas vezes se falassem... Dentro dela, existiam as marcas profundas do abandono (do amor, dos sonhos, dela, de tudo...), e é dentro dela que foram enterradas. Porque ainda que ele tivesse o profundo e eloqüente discurso de quem se preocupa com quem se esqueceu de seguir em frente, ela jamais o perdoaria... Ela jamais voltaria a acreditar em uma só palavra. Porque ela já havia se desiludido uma vez, não se permitiria uma segunda... E apesar dele ter jurado que nunca a deixaria só. Ela estava. E de novo. Ela estava quebrada, e ainda assim, tive que ser dura... Mostrei a ela, a força que ela tinha esquecido que tinha. "Levanta desse chão, menina!" Disse a ela. Sei que está doendo, mas levanta. Ajeita a armadura. Agarre-se ao que sobrou do teu amor próprio e erga a cabeça. Enfrenta o vento. Sorri pro sol. E quando olhar pra ele, não caia. Por favor, não caia. Engole o choro, se finge de morta. Abre a porta do carro e vai embora. Não fraqueje mais. Seja fria. E quando o deixar, não olhe pra trás. Enfrente seus problemas. Sofre essa dor de uma vez. Deixa que ela doa inteira, pra inteira, ir embora. Reaja! Vai! Tá pensando que só você sofre de amor? Tem tanta gente boa, se fodendo por aí. A culpa não é sua. A culpa não é de ninguém. Você que muito amou, não foi amada. Pena. É uma pena. Mas e daí? O mundo não para de girar pra você se levantar. O mesmo Deus que olha pra ele, olha pra você. Anda. Seja forte! Vai ser feliz... Tem tanta gente boa, pra se encantar, por aí. Seja o que você sabe ser de melhor. "E quem eu sou?" "Você é Valentina... Você sempre foi, Valentina."

*
"Não, ela não era tola. Mas... ela queria acreditar. Até a noite súbita em que não conseguiu mais.Tudo apodrecia mais e mais, sem que ela percebesse, doído do impossível que era tê-lo. Desta vez, ela tinha tanta certeza. Uma PUTA expectativa cercada por todos os lados de desilusão. Mas passa." - Caio Fernando Abreu

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