Au revoir, Pierrete...


Olhou-se no espelho e suspirou admirada. Apesar de estar completamente diferente, gostava da mulher que havia se tornado. Às vezes era mais severa e crítica do que a sua própria subjetiva suportava, mas, sorriu assim mesmo. Procurou por aquela menina assustada, sempre em busca de utopias e que rastejava migalhas de pessoas e coisas, que sequer chegaram a ser inteiras, um dia - não achou. Respirou aliviada! Dentro dela, ainda haviam todos aqueles sonhos belíssimos, cultivados desde criança, havia o ultra-romantismo e a fé imensurável no amor e nas pessoas. Mas resolveu deixá-los bem escondidos... no porão da alma. Matar sonhos é tão perigoso quanto sufocar o que de melhor e mais íntegro, temos em nós. Ninguém sabe o que sustenta o nosso edifício inteiro. Pensou em como estava mais madura e mais das suas escolhas e de si. Pensou também que, viver de passado, é peso morto. No auge nos seus vinte e poucos anos, ela tinha mesmo muita coisa pra viver, muitos lugares pra visitar e muita gente pra conhecer. Procurou, olhou em volta... E não restava dúvida: A Pierrete havia mesmo morrido! Mas deixou de si as partes mais bonitas (ainda que não entregasse tudo isso a mais ninguém). Não faz mal! Disse a si mesma, olhando fixamente o espelho. Assim como uma flor se recolhe para ressurgir mais bonita e mais forte, a sua primavera estava próxima. Levantou-se da poltrona de madeira, em frente da penteadeira, jogou os cabelos e sorriu. Não se arrependia de nada, nada do que passou. Se orgulhava como nunca, de todas as escolhas que fez. Porque foram elas, todas elas, que deram a ela o poder e a graça de ser quem é: VALENTINA! E prosseguiu decidida.

"I'm not the only one, staring at the sun..."

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