Um punhado de certezas e talvez...



Talvez eu nem tenha nascido para uma vida apaixonada e compartilhada. Talvez eu nunca tenha olhado verdadeiramente as pessoas e, portanto tenha visto somente a superficialidade que cercava a alma de cada uma delas. Talvez eu não conheça o que eu julgava tão bem conhecer. Talvez eu tenha me entupido de certezas, que hoje sequer fazem sentido, mas que eu continuo sem saber como abandonar ao longo do caminho. Talvez eu não saiba falar tão bem quanto sei escrever. E eu sei que uso as palavras para trapacear a dor e para fingir que sou leve e que está tudo na mais perfeita ordem. Talvez eu nunca tenha tido relacionamentos, mas, metáforas deles. O que é tristemente poético. Talvez eu só tenha sentido saudade, pra falar de outras coisas. Talvez eu tenha me embebido de paixões para manusear a dor. Porque eu nunca soube ao certo separar as duas... Eu tenho estado com tanto sono, tão cansada. Falo demais e, no entanto, não concluo nada. Eu continuo alienando as pessoas dentro dos meus conceitos. E continuo nomeando um sentimento pra cada coisa. Sempre pensei que assim, tudo estaria sob controle. Eu que me julgava não julgadora, me considerava livre, agora tendo que empurrar as grades dessa prisão de certezas que criei pra mim. E mesmo querendo muito, eu não posso culpar ninguém. Eu que sempre falei de pontes... Talvez eu seja uma farsa. Uma grande decepção. Pareço interessante no começo, mas depois me mostro essa criança egoísta e imatura que não consegue andar com as próprias pernas. Talvez eu tenha me tornado inacessível. Alguém que se entope de teorias pra tentar entender as coisas e depois dizer que não faz questão de entender nada. Eu que sempre falei de amor, nunca amei o outro em toda a dimensão que ele é. Talvez eu nunca tenha me preocupado com o fim dos relacionamentos que tive, só porque no fundo, eu sei lidar melhor com a solidão, do que a companhia da outra pessoa. Talvez eu tenha me preocupado mais com as vírgulas que não usei nas cartas de amor que escrevi, que com as pessoas que as receberam e que se julgaram amadas. Talvez eu só tenha dançado pra mostrar que eu podia seduzir alguém, se eu quisesse. Talvez eu tenha rompido relações, só para escrever as cartas mais tristes de despedida. E mostrar assim, o quanto eu sou boa em dominar e enfeitar a dor. Talvez eu só tenha vivido o amor, na literatura. Eu estou realmente cansada. Falei tanto e continuo no escuro. E mais uma vez eu uso as palavras pra tentar me defender das coisas, do mundo, de mim. Talvez eu devesse escrever uma carta em branco pra dizer que eu preciso silenciar: Se o silêncio continua esperando por mim, eu o aceito. Preciso esquecer as palavras, preciso me despedir delas para começar a viver com honestidade. Talvez silenciando eu consiga ser mais honesta com você. Eu precisei escrever tudo isso, pra dizer que: Eu preciso silenciar! Talvez eu só tenha escrito esse texto, pra conseguir chorar... E usar a palavra “Talvez”. Pode ser o início do abandono das minhas certezas, o início de algo mais leve e corriqueiro como “Não sei”.

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