A epifania do silêncio


Ouvindo música boa aqui :)

Epifanias são mágicas, não? O modo com que elas acontecem é mais surpreendente ainda... Eu estava na varanda de casa, tomando uma xícara de café com leite, observando crianças brincarem na rua... Foi meio que de repente, quando uma delas, uma menina com seus 6 anos, caiu da bicicleta. Um menino com a mesma idade a ajudou levantar e batendo na roupa dela (como quem tira a sujeira) a pôs firme e deu-a um abraço. Mas em silêncio, sabe? Ele não disse nada. Mas ela deve ter sentido uma baita proteção... Ele poderia ter dito com palavras, um monte de coisinhas bonitinhas, dessas que as crianças dizem, mas não. Ele preferiu o silêncio. O silêncio é incapaz de mentir! Não dizer nada, já é dizer. Não responder, já é uma resposta. Não fazer nada a respeito, é fazer algo. E mesmo permitindo que alguém escolha por você, já é uma escolha. Na vida da gente, acontece assim! Ás vezes, nós lutamos tanto por um objetivo, um desejo íntimo e sequer percebe o momento exato de partir, de desistir. Lembro de tantas vezes que abri meu coração, deixando explícito o modo que eu amava determinada pessoa... Eu falava e falava... Com esperança... “Palavras, são tudo que tenho pra te trazer pra perto de mim.” Sabe?! E eu lembro como era frustrante, receber o silêncio em troca. Eu me declarava, chorava e tudo que a outra pessoa tinha pra me oferecer, era o silêncio. E eu não entendia... E dizia: “Porque ela não se decide de uma vez? Porque ela não me manda embora? Porque ela não diz ‘Eu não quero você! ’”? rs A gente sofre tanto por tão pouco... E foi há pouco... Tomando café com leite, que percebi: Não dizer nada, já é dizer. O silêncio de tantas pessoas, já estava me dizendo o que eu precisava saber pra seguir em frente, e eu não queria enxergar. Nós costumamos idealizar tanta coisa... E a gente espera tanto, cria tanta expectativa em torno de alguém, que ás vezes, esquece mesmo de encarar a realidade bem do jeitinho que ela é... Clara e objetiva. Ás vezes o silêncio do outro explicita tudo... Mas a gente quer mais. A gente quer palavras... “Se ele (a) disser que não vêm, eu sigo em frente. Eu desisto!” “Se ele (a) disser que não me ama, eu o (a) esqueço.” Nós temos medo, de tomar as rédeas. De decidirmos. De darmos o final pra histórias tão doloridas, vividas sozinha. Eu já perdi tanto tempo, esperando palavras que nunca viriam pessoas que nunca chegariam... E eu sofri tanto por isso! Saber à hora de ir embora é coisa que só a maturidade e o tempo aprimoram. Ás vezes o que a gente acha imprescindível, irremediável, insubstituível, é apenas vício.

Em suma: Quando você sentir que deve ir, vá. Se a gente pondera demais um mundo de receios e medos, não sente tanta coisa que acha que sente. Não há como se expor sem passar pelo custo da exposição. Mas se você foi e teve a impressão que ele não veio se perceber que está indo sozinha ou porque ele não sente a mesma coisa, ou porque ele escolheu outro caminho, os sentimentos são seus e depois de um tempo eles encontrarão outro destino. (Eu sei.) E de hoje em diante, eu me prometo arrancar das coisas uma modesta alegria. E em cada noite, descobrir um bom motivo pra acordar de manhã e viver (da melhor forma que eu puder). Amém!

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