Que assim seja.

É como se a verdade fosse saísse devastando quaisquer ilusões que nutri durante todo esse tempo. Mas não percebi isto repentinamente, foi gradualmente, até o dia em que comecei a investigar porque não queria te ligar, ou ver, ou estar junto de qualquer forma e quando você me ligava eu não tinha mais assunto. Ainda existia amor, mas meu corpo estava congelado, completamente destituído de afeto.

E quando eu via seu nome no meu celular, pensava: “as mesmas conversas, o mesmo passado”. E quando você me convidou para um insensato passeio de carro pelo tráfego paulistano, pensei: “quero um lugar com mais aconchego, prefiro minha casa.” E foi triste demais não querer ver você porque fui pega de surpresa nesse desinteresse súbito pela nossa história, nosso amor. E fiquei três dias vivendo um luto imaginário como se tivéssemos terminado há três horas.

Mas não era o caso. Eu não estava me despedindo de um amor, mas de uma dependência. Eu não estava rejeitando você, mas a forma como estávamos conduzindo nossa história. E adoeci, e me fragilizei ao ponto de não consegui comer ou dormir, ou dormir a tarde toda e passar a noite com febres e descortinando pesadelos. E acordava triste pela minha falta de força para lutar por você. Indiferente às suas fotos, que há outonos passados, eu namorava com tanto vigor. E o seu rosto tão disforme nas minhas lembranças.

O que acho que aconteceu é que num processo lento, eis minha epifania: quem era eu na sua vida, na minha vida, na nossa história? O que tinha restado de mim depois de viver tão imersa e imensamente aquele amor? E onde eu caberia nos seus planos do “eu já disse que vou amá-la pra sempre, não é?”? E o que EU imaginava pro meu futuro que não conjugava para “nós”? Simplesmente eu passei a morar no teu abraço e, depois de algum tempo, eu passei a ver nos meus anseios, um meio de sempre agradar você. Nunca pensei que alguém pudesse perder a própria identidade em tantas sutilezas. Deixei minha companhia de lado pra me sentir desacompanhada ao seu lado.

Acho que ainda vivemos uma história... Aquela do "e foi num intervalo entre um café e outro que descobri que não a amo mais, simples assim." Nada foi formalmente explicado. Também, como poderia? E há explicação para o fim de um amor? O término de um romance tão amparado por desejos intermináveis e incontroláveis? Não, não há. Mas um tempo de nós acabou. Uma fase menor precisa crescer. E amores grandiosos demais precisam de um mínimo de maturidade pra sobreviver, fato. E nós não tivemos. Paciência. Ironia do destino. Felicidades e maturidade pra nós dois.

Que assim seja!


*Adaptação de Marla de Queiroz*

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