Primeiro dia sem você...

Nada como acordar triste, para não carregar a espera da decepção. Tomo um banho demorado escutando Paramore no último volume. Claro que não é para te provocar, você não está lá para ouvir a banda que você provavelmente não gosta, mas é para impor ao mundo que eu voltei, estou única e exclusiva novamente. Eu e o meu mundo. Eu e minha solidão sem preconceitos e sem lições de moral. Minha melhor amiga, a solidão, nunca vai me achar estranha. Justamente, porque é filha predileta da minha estranheza.

Tomo café com ela que, assim como eu, não come muito. A solidão precisa manter a forma para me acompanhar eternamente, e eu preciso não vomitar pelo inchaço que ela me causa. Coloco uma roupa estranha, minhas bijuterias exageradas que você odeia, minha sapatilha que não me deixa nada feminina, e pinto a cara. Adoro não precisar parecer uma moça com dono. Lembro que você escuta os mesmos CDs há meses e só deve trocar quando algum amigo seu te dá alguma dica, as minhas dicas seriam chatas. Meu mundo te encheu. Como você disse um dia desses. Dou graças a Deus de estar tão bem acompanhada dentro do meu universo. Eu e Paramore, eu e Tina Turner, eu e Kelly Clarkson, eu e Renato Russo.

Se eu quiser, hoje, alugo um daqueles filmes românticos e assisto embaixo da minha coberta, com um pijama bem feio e meu cabelo em seu pior estado. Quem sabe eu não tiro umas melecas do nariz, esmago meu travesseiro (que certamente não vai reclamar dos meus abraços sufocantes) e solto pum. Eu e meus filmes prediletos, eu e meu amante fofinho (o travesseiro), eu e as extensões do meu corpo.

O mundo é enorme sem você. O mundo é enorme sem toda a culpa que eu carrego por não ser a menininha-mulher leve e sem preconceitos que curte músicas religiosas, ora antes de dormir, vai a igreja todos os finais de semana, e quase não mostra o corpo. Eu sei que sou pesada, triste, dramática, neurótica, louca, insatisfeita, mimada, carente. E eu tô quase acabando com o seu amor por mim, de tanto que eu quero que você me ame. Percebe? Louca. Louca e só, porque ninguém vai agüentar isso.

Eu sempre fui só querendo ter uma família grande, café da manhã, Natal, cachorro. E eu continuo só, quando te vejo como minha família. O mundo é cheio de opções sem você, mas todas elas me cheiram azedas e murchas demais. Eu continuo só quando quero escrever uma vida com você, mas você detesta meus caminhos anotados e minhas regras. E eu detesto seu sono e sua ausência. Eu detesto seu riso alto e forçado, pisoteando o meu mundo de sombras. Eu detesto seu carro indo embora e as ruas se fechando, e eu sem poder berrar: “Para, pelo amor de Deus! Me resgata, e me coloca no colo, e diz que você me entende e sofre também com a minha dor.”

Eu sou só porque enquanto eu pensava tudo isso, você queria cuspir aos quatro ventos, o quanto é macho e forte. Estar sozinha não muda nada, conheço bem esse estado e, de verdade, sei lidar até melhor com ele. O que me entristece, é ter visto em você, o fim de uma história solitária da minha existência. Eu tinha visto na sua solidão uma excelente amiga para a minha solidão. Achei que elas pudessem sofrer juntas, enquanto a gente se divertia.


Stephanie M.

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